sábado, 23 de janeiro de 2016

Jarro de Barro


© by Wagner Ortiz Reg. BN 178-2/299-3 PPF8

23 de Janeiro

Jarro de Barro

Sou jarro,
Sou barro.
Barro de que é feito o jarro.

Sou berro,
Sou ferro.
Berro em goela de ferro.

Sou muro,
Sou duro.
Muro que me cerca, concreto duro.

Sou borrão,
Sou torrão.
Borrão de que é feito meu torrão.

Miro-me,
Firo-me.
Miro-me com tinta azulada e me firo.

Sou jarro,
Sou caro.
Bebo água do jarro caro.

Mero presente de desterro, meu erro.
Desterra-me a água,
Erra-me o carisma.

Atiro-me,
Retiro-me.
Por completo me firo, me retiro.

Sou ouro,
Sou touro.
Ouro que me cerca de futuro escuro,
Touro que me separa do findo urro.

Sou jarro de barro.
Sou barro nada raro.
Ferido, úmido da vida.

Sou jarro de barro,
Barro cercado do amaro,
Sem a tinta azulada, cara.

Sou borrão,
Sou torrão.
Torrão desfeito, pó do mundo,
Borrão de tinta, sina mirrada.

Pra que água no meu borco
Se o barro me dado é impuro
E a mim mesmo fere a muda secura?

A água molha a relva que urra,
Mas me desfaz cada gota da arte futura.
Ainda que possa ser, faz-se nó no meu gargalo
Esses borbotões que soluçam em meu aro.


©Wagner Ortiz
Todos os direitos reservados.
BN Reg. 178-2/299-3

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