quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Modernismo




O início do seculo XX caracterizou-se pelos diversos "-ismos" intitulados em seu conjunto como Vanguardas europeias. Essas correntes estéticas foram reflexos de um mundo marcado pela I Guerra e suas consequências. E como não poderia deixar de ser, Portugal (como toda a Europa) passou por dificuldades nos anos de guerra.

O Modernismo português coincidiu com as mudanças no plano econômico e social do país.

No final do século XIX, organizaram-se em Portugal os partidos Republicano e Socialista, os quais fizeram uma forte oposição ao regime monárquico português. Associado a esse clima antimonárquico, em 1890, a Inglaterra enviou um ultimato a Portugal, exigindo que o país retirasse suas tropas dos territórios situados entre Angola e Moçambique (tal procedimento atendia ao desejo expansionista inglês, que pretendia dominar completamente o território africano). O governo português, embora tentasse na época ampliar seu domínio na África, abandonou os territórios atendendo à solicitação da Inglaterra. Tal procedimento do governo gerou um grande desconforto da população portuguesa, fazendo crescer um forte desejo inflamado pela proclamação da República. 

Em 1908, o rei D. Carlos e seu filho, o príncipe D. Luís Filipe, foram assassinados por um homem do povo. O trono foi assumido pelo jovem de 18 anos, D.Manuel II. Em 1910, instalou-se a República em Portugal em meio a revoltas populares, incentivadas pela desestruturação monárquica.Teófilo Braga assumiu provisoriamente o governo. A República gerou duas correntes : os saudosistas - favoráveis ao governo e adeptos do retorno ao passado glorioso de Portugal; e os integralistas - grupo de oposição ao governo e adeptos do nazismo e do fascismo emergentes respectivamente na Alemanha e na Itália.

" Nada contra a Nação, tudo pela Nação "
                                               
                                               (Lema do Estado Novo)

Em 1926, uma revolta levou ao poder um governo de direita. Em 1932, assumiu oficialmente o governo Antônio de Oliveira Salazar, estabelecendo diretrizes do Estado Novo. Era a vitória do integralismo. A ditadura de Salazar durou ate 1974, caindo somente com a Revolução dos Cravos.

Embora tenha vencido politicamente o integralismo, o que caracterizou a literatura no período compreendido entre as duas guerras foi a tendência saudosista.

Fases e características do Modernismo português

Em 1910, surgiu a revista cultural A Águia, a qual propunha o saudosismo (retomada das tradições lusitanas) como renovação artística. Entretanto, o Modernismo português teve como marco inicial a publição da revista Orpheu, cujo primeiro numero saiu em 1915.

Os "orfistas" eram, entre outros, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Ronald de Carvalho, este último brasileiro. Influenciados pelo Futurismo de Marinetti, esses escritores tinham como objetivo escandalizar a sociedade da época, e conseguiram !

A revista Orpheu não chegou ao terceiro número, uma vez que Mário de Sá-Carneiro suicidou-se em 1916, mas sua importância foi grande para a literatura portuguesa, influenciando publicações posteriores como as revistas Exílio (1916), Ícaro(1916) e  Portugal Futurista (1917).

Gerações do Modernismo português

Podemos situar o Modernismo português no período entre-guerras : 1915, publicação da revista Presença; e o período que se estende de 1940 até nossos dias.

O Modernismo português é representado por três gerações :


1ª geração - o Orfismo (1915-1917)



A 1ª geração foi marcada pela influência dos manifestos de vanguardas europeias e pela publicação da revista Orpheu. Embora os autores dessa geração tenham escandalizado a sociedade portuguesa, a grande ênfase que se dá atualmente e à obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos.

Autores : Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Luiz de Montalvor, Florbela Espanca e outros.


2ª geração - o Presencismo (1927-1940)


Divulgou suas propostas por meio da revista Presenca. Os artistas dessa geração defenderam uma arte desvinculada da limitação tempo-espaco (a "arte-viva") e deram continuidade as ideias do orfismo. Caracterizou essa geração a introspecção e a análise interior.

Autores : José Régio, José Rodrigues Miguéis, Branquinho da Fonseca, Miguel Torga e outros.


3ª geração - o Neo-Realismo (1940)


A 3ª geração valorizou o romance social, abandonado a anaáise psicológica. Os autores passaram a utilizar a literatura omo veículo propagador de suas ideias. O Neo-Realismo é identificado com o regionalismo brasileiro de 30.

O romance que inaugurou essa tendência foi Gaibéus, de Alves Redol.

Autores: Alves Redol, Vergílio Ferreira, Ferreira Castro e outros.


Tendências contemporâneas


No final da década de 1940, surgiu o Grupo Surrealista, o qual organizou no ano de 1949, em Lisboa, uma exposição influenciada pelo movimento surrealista francês (Andre Breton). 

Após 1960, surgiu a poesia experimental e a poesia social. A prosa caracterizou-se pelo Neo-Realismo, marcado por personagens coletivos e por um intimismo intenso, sobretudo nas obras da poetisa Augustina Bessa-Luis.

A obra de Fernando Pessoa serve como referência para os autores portugueses até a atualidade.

Fernando Pessoa

                    "O ponto central da minha personalidade como artista é que sou um poeta dramático; tenho continuamente, em tudo quanto escrevo, a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo. Vôo outro - eis tudo. "

(Frase de Fernando Pessoa, citada na obra Fernando Pessoa - poesia de todos os tempos, seleção e organização de Cleonice Berardinelli.
Editora Nova Fronteira, 10ª edição, p.10, Rio de Janeiro, 1985)

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, a 13 de junho de 1888. Aos cinco anos, ficou órfão de pai. Dois anos depois, sua mãe casou-se novamente, desta vez com um militar que, nomeado cônsul da África, viajou para lá com toda a família. Os estudos iniciais de Fernando Pessoa foram realizados na África do Sul, respeitando-se as tradições britânicas. Em 1905, retornou a Lisboa matriculando-se no Curso Superior de Letras, o qual abandonou em seguida. Posteriormente, trabalhou como correspondente estrangeiro no jornal Comércio.

Colaborou na revista Águia na década de 1910 e tomou contato com os movimentos de vanguarda europeus. Fundou, em 1915, a revista Orpheu e intensificou sua produção literária. Suas ideias e as dos demais integrantes da revista não foram muito bem aceitas pela comunidade acadêmica na época. É tambem desse período a criação de seus heterônimos.

Devido às consequências do alcoolismo, morreu a 30 de novembro de 1935, vítima de cirrose hepática.


 Os heterônimos

              "Sou a cena viva onde passam vários atores representando várias peças."
                                                                                                                   (Fernando Pessoa)


Fernando Pessoa é o principal escritor do Modernismo português. O poeta era tão denso e profundo que nao se limitou a escrever somente segundo suas próprias experiências (o que já se constituiria num excepcional material), escreveu também a partir da experiência de outros. Heterônimo é a criação de um nome fictício a que o escritor atribui suas obras. Não se trata simplesmente de um  pseudônimo, mas sim da criação de um outro poeta com estilo próprio e o que é mais surpreendente, de uma personalidade particular e uma biografia específica (profissão, intelectual, amores, etc).Assim, Fernando Pessoa criou vários heterônimos, entre os quais citaremos os principais : Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. 

Pseudônimo : nome falso adotado por alguém a fim de ocultar-se por qualquer motivo.

Heterônimo : outro nome, imaginário, que um  homem empresta a certas obras suas atribuindo a esse autor por ele criado qualidades e tendências literárias próprias, individuais e diferentes das do criador.
(Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 1986)


Fernando Pessoa - Ortônimo 
("ele mesmo")

A poesia de Fernando Pessoa ("ele mesmo") expressa saudosismo por meio da obra Mensagem (única publicada em vida), que evoca o sentimento nacionalista de um país que sonha com o grande império que um dia foi quando da época das Grandes Navegações e de Camões. É a exaltação da tradição lusitana, como se pode notar no poema a seguir :

Chuva oblíqua

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...


 Assista também à declamação do poema Aniversário de Fernando Pessoa por Jô Soares:
 http://www.youtube.com/watch?v=OnOFveF1Eb8&feature=related


Nos livros Quadras ao gosto popular e Cancioneiro, encontramos um Fernando Pessoa lírico sem perder de vista a tradiçãa lusitana. O próprio título já resgata o passado português : cancioneiro, coletâneas das cantigas trovadorescas medievais, gênero muito cultivado por Portugal nos séculos XII, XIII e XIV.


Alberto Caeiro


Alberto Caeiro da Silva nasceu a 16 de abril de 1889, em Lisboa. Órfão de pai e mãe, viveu com uma tia no campo. Morreu em 1915, vítima da tuberculose.

Caeiro é um ponto bucólico que valoriza o campo e prega a simplicidade como princípio da vida. O mundo para Caeiro era o que ele sentia e o que via, portanto vinculado aos sentidos. O poeta não enxergou o mundo num sentido metafísico, daí sua identificação com o paganismo. Leia o poema XXIV de "O guardador de rebanhos" :

XXIV

     O que nós vemos das cousas são as cousas.
     Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
     Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
     Se ver e ouvir são ver e ouvir?
     O essencial é saber ver,
     Saber ver sem estar a pensar,
     Saber ver quando se vê,
     E nem pensar quando se vê
     Nem ver quando se pensa.
     Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!), 
     Isso exige um estudo profundo,
     Uma aprendizagem de desaprender
     E uma seqüestração na liberdade daquele convento
     De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
     E as flores as penitentes convictas de um só dia,
     Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
     Nem as flores senão flores.
     Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.


Ricardo Reis


Ricardo Reis nasceu no Porto, a 19 de setembro de 1887. Formou-se em Medicina, depois de ter estudado em colégio de jesuítas. Após a proclamação da República, em Portugal, buscou exiíio no Brasil, uma vez que era monarquista.
Ricardo Reis era um estudioso da cultura clássica, daí a valorização do paganismo e a presença, em seus poemas, da mitologia clássica. Como Alberto Caeiro, Ricardo Reis valorizou a vida no campo, no entanto Reis questionou e refletiu sobre o mundo moderno e sua desintegração e ainda valorizou o carpe diem. Leia um poema de Ricardo Reis:


 
Bocas Roxas
 
Bocas roxas de vinho,  
Testas brancas sob rosas,  
Nus, brancos antebraços  
Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro  

Em que fiquemos, mudos,  
Eternamente inscritos 
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida 

Como os homens a vivem 
Cheia da negra poeira 
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem 

Com seu exemplo aqueles 
Que nada mais pretendem 
Que ir no rio das coisas.

Álvaro de Campos

Álvaro de Campos nasceu em Tavira, extremo sul de Portugal, em 15 de outubro de 1890. Formou-se engenheiro na Escócia, entretanto não exerceu a profissão.

Campos é um poeta futurista e moderno, dessa forma valoriza a tecnologia e a velocidade. Outro traço característico de sua personalidade é o pessimismo.

Os poemas de Campos são escritos em versos livres e brancos e guardam uma constante agressividade, como  se pode notar no trecho a seguir :

Ah, Onde Estou


 
  Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo, 
  A banalidade devorante das caras de toda a gente! 
  Ah, a angústia insuportável de gente! 
  O cansaço inconvertível de ver e ouvir! 

  (Murmúrio outrora de regatos próprios, de arvoredo meu.) 
  Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto, 
  Estômago da alma alvorotado de eu ser...



Bibliografia:

http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=137
http://www.revista.agulha.nom.br/fp229.html
http://www.revista.agulha.nom.br/facam82.html
Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 1985

Edeli Barbosa              118885
Larissa M.Martins       110277
Sarah Pinheiro             111034





segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobre a Vírgula

Contribuição enviada por Ubiratan Sousa:

Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI

(Associação Brasileira de Imprensa).

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode criar heróis..
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar. 
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.



Detalhes Adicionais:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.



* Se você for 
mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER...

* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Romantismo






O Romantismo: Revolução e Contradição


O Romantismo, designa uma tendência geral da vida e da arte, um certo momento delimitado. O comportamento romântico caracteriza-se pelo sonho, pelo devaneio, por uma atitude emotiva, subjetiva, diante das coisas. Afinal, o pensamento romântico vai muito além do que podemos ver; ele procura desvendar o que estamos sentindo. O Romantismo não conta, ele faz de conta, idealiza um universo melhor, defendendo a ideia da expressão do eu lírico, onde prevalece o tom melancólico, falando de solidão e nostalgia.
O ideal romântico, tenta colocar o universo que presenciamos, de forma subjetiva, sendo que a expressão do sentimentalismo não precisa obedecer a nenhuma regra, antes adorada pelos clássicos.
O advento do Romantismo em Portugal vem apenas confirmar a diluição do Arcadismo. Portugal é reflexo dos dois acontecimentos que marcaram e mudaram a face da Europa na segunda metade do século XVIII: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, responsáveis pela abolição das monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que então, dominara a vida política, econômica e social da época. A luta pelo trono em Portugal se dá com veemência, gerando conturbação e desordem interna na nação.
Com isso, Almeida Garrett acaba por exilar-se na Inglaterra, onde entra em contato com a Obra de Lord Byron e Scott. Ao mesmo tempo, por estar presenciando o Romantismo inglês, envolve-se com o teatro de William Shakespeare.
Em 1825, Garrett publica a narrativa Camões, inspirando-se na epopéia “Os Lusíadas”. A narrativa deste autor, é uma biografia sentimental de Camões.
Este poema é considerado introdutor do Romantismo em Portugal, por apresentar características que viriam se firmar no espírito romântico: versos decassílabos brancos, vocabulário, subjetivismo, nostalgia, melancolia, e a grande combinação dos gêneros literários.



Características
O Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar, enfrentar os problemas da vida e do pensamento.
Esta escola repudiava os clássicos, opondo-se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação. O escritor romântico projetava-se para dentro de si, tendo como fonte o eu lírico, do qual fluía um diverso conteúdo sentimentalista e, muitas vezes, melancólico da vida, do amor e, às vezes, exageradamente, da própria morte. A introversão era característica essencialmente romântica.


Primeira geração romântica:
_ Sobrevivência de características neoclássicas, nacionalismo, historicismo e medievalismo. Principais poetas:



Almeida Garrett
Obras: Poesia: Camões (1825); Dona Branca (1826); Lírica de João Mínimo (1829); Flores sem fruto (1845); Folhas caídas (1853). Prosa: Viagens na minha terra (1843-1845); O Arco de Santana (1845-50). Teatro: Catão (1822); Mérope (1841); Um Auto de Gil Vicente (1842); O alfageme de Santarém (1842); Frei Luís de Sousa (1844); D. Filipa de Vilhena (1846).
Link do livro Folhas caídas:




Alexandre Herculano
Obras: A harpa do crente (1838), Eurico, o presbítero (1844), dentre outras.








Antonio Feliciano de Castilho
Obras: Eco da Voz Portugueza por Terras de Santa Cruz,
O presbitero da montanha.


Garrett e Herculano entendiam a literatura como tarefa cívica, como meio de ação pedagógica.
"A abolicão dos conventos destruira o sistema dos estudos; e se cumpria aos governos organizar a instrução pública, era obrigação dos escritores novos continuar a obra dos frades." Oliveira Martins



Exemplo de poema romântico


Não te amo, quero-te: o amor vem da alma.

E eu na alma - tenho a calma;

A calma - do jazido.

Ai! Não te amo, não.


Não te amo, quero-te: o amor é vida.

E vida - nem sentida,

A trago eu já, comigo.

Ai! Não te amo, não.


Ai, não te amo não, eu só te quero

De um querer bruto e fero

Que sangue me devora,

Não chega ao coração


Folhas caídas, 1853 (excerto)




Segunda geração romântica:
_ Mal do século, excessos do subjetivismo e do emocionalismo românticos, irracionalismo, escapismo, fantasia e pessimismo. Principais poetas:



Camilo Castelo Branco
Obras: Carlota Ângela (1858); Amor de perdição (1862); Coração, cabeça e estômago (1862); Amor de salvação (1864); A queda dum anjo (1866); A doida do Candal (1867); Novelas do Minho (1875-77); Eusébio Macário (1879); A corja (1880); A brasileira de Prazins (1882).

Trecho de “Amor de perdição”:





Soares de Passos

Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do "mal-do-século". Vivendo na própria carne os devaneios de que se nutria a fértil imaginação de tuberculoso, sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico do escapismo das responsabilidades sociais da época, acabando por cair em extremo pessimismo, um incrível desalento derrotista
Obra: Poesias (1855)




Terceira geração romântica:
_ Diluição das características românticas, pré-realismo. Acontece aqui, um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo, em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. Esse período é marcado pela presença de poetas, como João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais, Pinheiro Chagas e Júlio Dinis, que purificam até o extremo as características românticas. Principais poetas:




João de Deus


Obras: Flores do Campo (1868), Folhas Soltas (1876) e Campos de Flores(1893)
http://poesiaebiografia.blogspot.com/2009/04/joao-de-deus.html












Júlio Dinis

Os poemas de Júlio Dinis armam-se sobre uma tese moral e teleológica, na medida em que pressupõem uma melhoria, embora remota, para a espécie humana, frontalmente contrária à desesperação e ao amoralismo cético dos ultra-românticos, numa linguagem coerente, lírica e de imediata comunicabilidade. Conduz suas histórias, sempre a um epílogo feliz, não considerando a heroína como "mulher demônio", mas sim como "mulher anjo".
Sua principal obra: As pupilas do senhor reitor.






Pintura e arquitetura

Vários pintores se destacaram na pintura, mas Auguste Roquemont foi o primeiro a fixar na tela cenas de costumes populares. Tomás da Anunciação, João Cristino da Silva e Metrass são outros nomes importantes da pintura romântica. Este último, Metrass, traduz nos seus quadros uma nova situação sentimental, com um dramatismo ao mesmo tempo empolgante e mórbido. O melhor exemplo desse gosto é o célebre Só Deus, considerado por alguns a mais poderosa imagem do romantismo português.
A arquitetura do período romântico em Portugal tem como monumento mais representativo do espírito romântico o Palácio da Pena, em Sintra. A serra de Sintra sempre empolgou as almas românticas, Garrett em 1925 escrevia:


"...Oh grutas frias / oh gemedouras fontes, oh suspiros / De namoradas selvas, brandas veigas, / verdes outeiros, gigantescas serras."







Palácio da Pena – Sintra
Eleito como uma das sete maravilhas de Portugal

http://www.youtube.com/watch?v=F0SMMO95BKw


J.C da Silva “A paisagem do Gado”




Tomás de Anunciação “Paisagem da amora”





Metrass “Só Deus”


Bibliografia:

MOISES, M. A literatura Portuguesa. São Paulo. Cultrix, 2008.
http://www.coladaweb.com/literatura/romantismo-em-portugal
http://www.brasilescola.com/literatura/o-romantismo-portugal.htm
http://www.mundoeducacao.com.br/literatura/romantismo-portugal.htm



Trabalho realizado por:
Camila Ap. Lambstain RA 110438
Marcela Elis Schiavo RA 110159
Raquel Estela RA 119567

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Simbolismo

Simbolismo

Gauguin simbolista

O Simbolismo é originário da França e se iniciou com a publicação de As Flores do Mal, de Baudelaire, em 1857. Nome inicial: Decadentismo.
Marcadamente individualista e místico, foi com desdém apelidado de "decadentismo" - clara alusão à decadência dos valores estéticos então vigentes e a uma certa afetação que neles deixava a sua marca. Em 1886 um manifesto traz a denominação que viria marcar definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.

Bases Filosóficas


Kiekegaard – o homem passa por três estágios em sua existência – estético (presença do novo), ético (gravidade e responsabilidade da vida) e religioso (relação com Deus). Bergson – não é a inteligência que chega a compreender a vida. É a intuição.

Simbolismo em Portugal

Em Portugal, o Simbolismo tem início em 1890, com o livro de poemas de Eugênio de Castro, Oaristos, e com revistas acadêmicas, Os Insubmissos e Boêmia Nova, cujos colaboradores eram Eugênio de Castro e Antônio Nobre. Portugal passou por crise econômica entre os anos de 1890 e 1891, descrédito em sua monarquia e assim como ocorrera com o Simbolismo brasileiro, a literatura simbolista portuguesa foi influenciada pela França, berço do Simbolismo. Nesta época surge o grupo “Os Vencidos da Vida”, formado por Eça de Queirós, Guerra Junqueira e outros escritores que tinham uma visão depressiva e melancólica da realidade.

Características

Os autores voltam-se à realidade subjetiva, às manifestações metafísicas e espirituais, abandonadas desde o Romantismo. Buscava a essência do ser humano, a alma; a oposição entre matéria e espírito, a purificação do espírito, a valorização do inconsciente e do subconsciente.
Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e sim está focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", buscam o inconsciente, o sonho. Os temas são místicos, espirituais, ocultos.
Musicalidade: música, a mais importante de todas as artes. “A música antes de tudo.” Aliterações, assonâncias, onomatopéias, sinestesias
A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista, segundo o ensinamento de um dos mestres do simbolismo francês, Paul Verlaine, que em seu poema "Art Poétique", afirma: "De la musique avant toute chose..." (" A música acima de tudo...") Para conseguir aproximação da poesia com a música, os simbolistas lançaram mão de alguns recursos, como por exemplo a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela repetição de fonemas vocálicos
Linguagem vaga, imprecisa, sugestiva: não mostrava as coisas, apenas as sugeria.
Negação do materialismo: reação ao materialismo e ao cientificismo realista. Retorno à mentalidade mística: comunhão com o cosmo, astros. Esoterismo.
Maiúsculas alegorizantes: personificação.
Mergulho no eu profundo: nefelibatas – habitantes das nuvens.

Características da linguagem simbolista

1. As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:

2. Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear.

3. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos;
4. Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias;

5. Subjetivismo e teorias que se voltam ao mundo interior;

6. Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo;

7. Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior;

8. Pessimismo, dor de existir;

9. Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito; Um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso

10. Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo; Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura.

Observação: Na concepção simbolista o louco era um ser completamente livre por não obedecer às regras. Teoricamente o poeta simbolista é o ser feliz.


UM POUCO DA ARTE SIMBOLISTA:
http://www.youtube.com/watch?v=aLZf6Ap0ooI&feature=related
Alguns Autores e Obras
Camilo Pessanha (1867-1926)

É considerado o mais simbolista dos poetas da época. Autor de apenas um livro: Clepsidra influenciou a geração de Orpheu, que iniciou o Modernismo em Portugal. Passou grande parte da vida em Macau (China), tornando-se tradutor da poesia chinesa para o português.
Autor considerado de difícil leitura, pois trabalha bem a linguagem. No seu livro predomina o estranhamento entre o eu e o corpo; o eu e a existência e o mundo. Em sua obra, Clepsidra, Camilo Pessanha distancia-se de uma situação concreta e pessoal, e sua poesia é pura abstração.
Antônio Nobre(1867-1900)
Ingressou na carreira diplomática, morrendo de tuberculose aos 33 anos. Estudou em Paris.
Obras: Só (Paris, 1892), Despedidas (1902), Primeiros versos (1921), Correspondência.
É simbolista, mas não tem seus cacoetes. Considerado como nacionalista e romântico retardatário. Antônio Pereira Nobre exaltou a vida provinciana do norte de Portugal, por influência de Garrett e de Júlio Dinis. A sua poesia manifesta rica musicalidade rítmica e linguagem com um falar cotidiano e coloquial, além do pessimismo.
Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944)
A sua obra pode ser dividida em duas fases: simbolista e neoclássica. A simbolista corresponde aos poemas escritos já no século XX.
Novas rimas, novas métricas, aliterações, versos alexandrinos, vocabulário mais rico, ele expõe no prefácio – manifesto de Oaristos. Na fase neoclássica apresenta temas voltados à antigüidade clássica e ao passado português (profundamente saudosista).
Florbela Espanca (1894-1930)
Embora não pertença propriamente ao período áureo do Simbolismo possui idéias simbolistas. É considerada uma das mais perfeitas sonetistas da língua portuguesa. Suas obras: Juvenília; Livro de Mágoas; Livro de Sóror Saudade; Relíquias e Chameca em Flor.
Teixeira de Pascoaes (1877-1952): é o pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos. Deixou obras de cunho filosófico e biografias. De seus livros de poesias citam-se Maranos, Regresso ao Paraíso, Sempre, Terra Proibida, Elegias.

Raul Brandão (1867-1930): literatura forte e dramática. A sua melhor produção está na prosa de ficção: A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore, A Farsa, Os Pobres, Húmus, O Pobre de Pedir.
Cronologia do Simbolismo em Portugal
Período: século XIX e XX
Início: 1890 - Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro.
Fim: 1915 - Surgimento da Revista Orpheu, inaugurando o Modernismo.
Fato histórico importante: em 1910 o movimento republicano, apoiado pela Inglaterra, é vitorioso.
Soneto
(Antônio Nobre)

Ó Virgens que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar.
Cantai, nessa voz onipotente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!
Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu Lar desterrai
Todas aquelas ilusões antigas
Que eu vi morrer num sonho, como um ai,
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!
Interrogação
(Camilo Pessanha)
Não sei se isto é amor.
Procuro teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crespuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente....
Amor, não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Fontes:
www.portrasdasletras.com.br/
www.infoescola.com
www.instituto-camoes.pt/

Daiane da Silva Nascimento RA 118169
Débora C. Martins Rodrigues RA 118482
Quezia S. Anacleto da Costa RA 136381
Vivian T. de Souza Lima RA 110345