domingo, 20 de dezembro de 2015

Musa Solitária



Musa Solitária
05/08/2013

“Vapor de vida que desvanecerá”,
Flor rubra que negra murchará.
Febre sangrenta que adoecerá,
Manchará a ideia que minha já foi.

Mundos que contente já te fiz
De brancas cálidas ilusões.
Desmancharam-se no papel da atriz,
No palco que atreveste possuir.

Desde o princípio exigias, voz
Rezingava meu sangue avesso,
E bebeste, lambuzaste da foz.

Em vil momento, coroaste-me ateia,
De atroz sentimento despedaçaste-me,
Das maravilhas, puniste-me na teia.

Vives presa ao passado, teu tormento,
Todo ciumento, dominante, sequioso,
Onde teu encanto fingiste saboroso.
Maldito, mas onde fora teu maior alento.

Em teu palco fizeste teus gestos,
Atuaste sob véu, no silêncio sábio,
Com magia de teus olhos honestos
De onde tua ferida clama inábil.

Aplaca-te felinos, tomando-os teus seios,
Mas feneceram teus sonhos modestos,
Então, aquilina tornaste em teus meios.

Letras, calabouço do teu mundo.
Escuro, consolação do teu peito.
Onde se cerra teu choro iracundo.

Qual inventara Michelangelo em carrara,
Criatura tão intensa, és Aurora estátua.
Bem-quis tua perspicácia, obra rara,
Beneplácito do poeta, refuta fama fátua.

Mas quiseste todo meu sangue rubro
E bebeste toda seiva selvagem.
Comeste minhas litteras entranhas,
Arrotaste voluptuosa à face teu pajem.

Então, viajaste às estrelas como anjo,
No espaço abriste tuas asas,
Pousaste no espírito qual arranjo.

No Céu, lá fincaste tuas brasas,
Meu espírito calcinaste ferina,
Mas ainda por teus espinhos te arrasas.

Quem dera, se não desvanecesse o vapor,
Quem dera, se aplacasse a sangrenta febre,
Se não mais te maltratassem os espinhos
Para que não murchasse a rubra flor.

Porém, nada. Nem teu silêncio,
Teu véu, teus gestos de atriz,
Nem calabouço ou indulgência,
Curará tua ferida ácida da solidão motriz.

©Wagner Ortiz-2013
Reg.178-2/299-3 BN

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©Wagner Ortiz - reg. 178-3/299-3

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Contemporary / 2010
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