sexta-feira, 30 de março de 2018

Não sou nada




Não sou nada.

Sou pau podre
Sou voz rouca
Sou relógio louco
Sou cutelo cego
Sou apito surdo
Sou uva-passa do Natal passado caída atrás da mesa
Sou luva no verão
Sou pau de macarrão sem uso
Sou breu no escuro
Sou viúvo de mulher viva
Sou fantasma de gente viva
Sou ferro mole
Sou berro no fundo da goela
Sou moedinha de um centavo no fundo do poço dos desejos
Sou falha da faísca
Sou lata que não abre
Sou coca sem gás
Sou Android sem wi-fi
Sou notebook sem memória
Sou violão sem cordas
...
Não escreverei:
Sou nada.





BN 1782-2293

© Wagner Ortiz

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