quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Stalingrado, II Guerra: Sonho

Hoje durante o sono da madrugada tive um sonho, geralmente tenho sonhos interessantes, digo assim pois sonho que estou em lugares e participando de uma história. Na verdade esses sonhos são histórias, contos que minha cabeça cria enquanto estou dormindo, então depois as escrevo, nem sempre, mas escrevo as histórias que sonho. Desta vez sonhei que era um menino vivendo na Rússia, que durante a segunda guerra mundial tenta fugir dos soldados alemães assassinos.

Na verdade minha vida era uma maravilha antes da guerra, vivia numa cidade pequena com a família. A vida era simples e minha família trabalhava com artesanato. Todos os dias pegava a flauta e ia tocar as margens do Lago próximo da minha casa. A paisagem era linda, magnífica, e toda essa grande visão da natureza moldou minha personalidade e sensibilidade. Era a liberdade! O ar frio no rosto, as folhas marrons e amareladas no chão, o azul do lago na imensidadão de luz, me sintia uma picelada no meio da tela pintora natureza.

Em 1938, papai resolveu sair da cidade para criar um negócio na em Stalingrado, onde havia uma feira de artesanato anual, e para onde íamos todos os anos vender. O papai pensava em melhorar de vida, e assim  nos mudaram para um cortiço no subúrbio da cidade.

A vida nova foi difícil. Eu tinha um sentimento de culpa, um peso, uma sensação de perda. Já não sorria, não vivia em liberdade, mas sempre atento, preocupado, já não tocava a flauta, e não via mais a beleza da natureza e as cores da vida. Logo comecei a praticar o artesanato para ajudar a família e a fazer pequenas peças em argila.

Depois da revolução russa, a vida não era fácil, e tudo tinha seu peso exatamente certo, não havia modo de prosperar, mas isso era o sonho de todos. Porém, com os rumores de guerras de uma Europa conturbada as pessoas viviam com muito medo, e em 1939, e desentendimento entre os homens se acentuou e a guerra começou de maneira fugaz. A vida se tornou uma loucura, e todos viviam com medo. Os homens e os mais jovens eram convocados, assim meus irmãos foram para o segundo batalhão das forças do exército russo.

A cidade de Stalingrado havia prosperado as margens do Volga, porém a cidade estava em estado de alerta, pois as tropas de Hittler avançavam e os bombadeiros sobrevoavam cidades russas. Em 1941, já era um rapazinho com 11 anos, a vida estava muito difícil. Para comer e se aquecer tínhamos que queimar os artesanatos, quadros, e outra coisas como ferramentas e utensílios. Comíamos água de batata cozida no mesmo fogo que nos aquecia. E todo os dias a cidade entrava em estado de alerta contra os ataques. 

Minha mãe foi obrigada a trabalhar duramente em uma fábrica de munição, que fora criada às pressas, mas o trabalho era semi-escravo, e ela se sentia tão cansada que mal podia cuidar de nós. Em uma noite ela não voltou, e depois disso ficamos abandonados. Ninguém nos avisou de nada, e as cartas que vinham de meus irmãos e pai, não podíamos ler, pois nunca tínhamos entrado em escola desde 1937. A vida estava se esvaindo, e minhas irmãs estavam doentes.

Em uma certa noite, em outubro de 1942, os zunidos foram fortes, as bombas caíam, e os estrondos eram colossais. As casas começavam a desmoronar e a fumaça a invadir todos os lados. Os soldados começaram invadir a cidade e as nossas forças a revidar com morteiros e tropas. Mas não foi fácil manter o inimigo afastado, logo pela fresta da janela vi os soldados entrando na cidade, gritando pelas ruas e os nossos soldados em desespero fugindo. Não havia mais casas do outro lado, haviam caído com as explosões. E então os soldados alemães fizeram guaritas e passaram a controlar a cidade.

Uma das minhas irmãs dormiu e não acordou mais. A outra estava muito fraca, e não podíamos sair de casa. Foi quando um grupo de soldados russos entrou em nossa casa, que resistia bravamente às rachaduras causadas pelo impacto das bombas. Eram dez soldados em 2 pequenos cômodos. Não diziam nada, apenas empunhavam pequenos revólveres e olhavam freneticamente pelas frestas da casa.

Naquela tarde cinzenta, choveu mais uma vez bombas, e a casa começou a desmoronar, os soldados foram descobertos pelas patrulhas que vasculhavam as casas das região, foram rendidos e assassinados, não via minha irmã. Quando capturavam os soldados entrei num canto apertado, um cômodo estreito e baixo da casa, fiquei atento e quieto. De repente ouvi gritos, as paredes desmoronaram por completo e os inimigos nos abandonaram. Fui salvo, mas as paredes onde estava começaram a ceder. tinha pouco tempo para tentar fugir. A janela começou a ceder e os vidros estouraram, então a armação cedeu, a parede começou a ceder. Tentei ir pelo cômodo central mais não havia mais espaço, pensei em salvar a flauta, mas o monturo havia obstruído a passagem e topei com uma perna no meio dos escombros. Voltei e olhei pela fresta onde havia a janela, os soldados me viram e gritavam, então pulei, e logo em seguida tudo veio abaixo.

O soldado me pegou, me levou devagar, eu estava com muita fome, então caí. Vi os tanques roncando pelas ruas, enormes! Ele me levantou e me deu uma parte de sua barra de ração. Depois, me colocaram em um veículo repleto de crianças e pude ver minha irmã caída no fundo. O caminhão foi pela estrada destruída, mas logo que saiu da cidade foi abordado pela resistência. Houve tiroteio. Os soldados do comboio foram mortos pelas últimas balas dos russos. Rapidamente tomaram os veículo, socorreram as crianças feridas, algumas estavam mortas, e seguiram. Entramos na floresta, depois conseguimos fugir para uma cidade pequena onde fomos salvos. Eu e minha irmã fomos deixados com uma família do local, e depois de 3 anos de infernos todos nós resistimos.

Anos mais tarde comecei a ensinar as crianças do local. Minha irmã se casou e foi para outra cidade. E hoje, depois de tudo, ainda me lembro da minha pequena casa perto do lago, onde me sentia uma pincelada na exuberante paisagem da natureza, que agora conta dos restos militares que ficaram no local.

Puf!

Bem, final do sonho e de volta a realidade!

 ©Wagner Ortiz

Um comentário:

Letras 6NA disse...

Wagner, seu blog é muito interessante!
Já estamos te seguindo!
Beijos!
Camila Guinsani