segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cale-se?




Ilustração: Drooker


Diante da mundial crise cultural que também vem assolando o nosso país, desde a de década em que ser artista, músico, compositor e cantor passa a ser uma manifestação banal visando os puros interesses comerciais e diante disso inaugurada uma "mídia mequetrefe" promotora de "lixo cultural", se concretiza com esse vigésimo segundo prêmio da MPB, de modo lamentável, a total estiolação da arte criativa e musical do país em nome da fantasia capitalista e interesses mesquinhos. Toda essa mídia iconoclasta liderada pela Globo, rouba o mérito dos verdadeiros talentos, não poucos no Brasil, e promove, como vem sendo discutido nessa lista, uma desenfreada desvalorização da arte em geral em detrimento da própria arte de "formas imutáveis" e da cultura de massa, além de "expugnar" aqueles que ousam falar contra (e por isso omissos nessa lista com medo de perder espaço) esse nefasto sistema que promove a ignorância como se fosse algo nobre, a mediocridade como se fosse poesia e a mentira como se fosse verdade. Assim, o cataclismo cultural está instaurado, premiado, assim como no cenário político, e, infelizmente, pouco se houve de pensamentos que possam abrir algo solucionador ou denunciador, pois há um eterno silêncio pernicioso que não deixa a cidadania existir e quem paga é a educação, a arte, os valores morais, etc.

Crê-se não ser necessária a explicação do termo "lixo cultural", pois a lista conta com cultos e artistas que já debateram o assunto, contudo se tem a noção de tudo que inverte a verdade por mentira, fatalmente será "abominação cultural e social". Assim, depois de o país assistir ao nascimento de tantos gênios e talentos, grandes poetas, pintores e artistas de toda espécie, especialmente empenhados a defender uma cultura genuína, assiste-se a quase extinção do elemento criador em toda arte: a criatividade. Morta simplesmente pela ganância e interesses de poucos. O que há de novo e inspirador para se premiar na arte do Brasil? Moldes que são repetidos e passado de geração em geração, do cantor pai para o cantor filho? Novas roupagens de obras musicais emboloradas sem nenhuma criatividade? Que proveito há em se premiar um mesmo cantor ou trabalho doze vezes? Isso é promover a criatividade? Mas, já dizia Jean Baudrillard, " a realidade é um simulacro". Pelo menos diante desse "show de horrores" que foi o 22 prêmio da MPB, ainda subsisti, pois não tem como ser ignorados pela monstruosidade de sua criação, talentos como Hamilton de Holanda, Mehimari e Yamandu Costa.

Quanto a exclusão dos pensadores e denunciadores desse império mercadológico de cultura de massa, não é de se assustar, pois mesmo na Grécia antiga, pensadores que não aceitaram ser corrompidos foi exilados e mortos, aleijando qualquer tipo de cidadania e movimento. Hoje há claramente três classes de artistas, os que se corrompem aceitando prêmios como esse, os que se calam mediante a mediocridade e os que nem são citados, pois são indigentes da arte, pois se recusam a aceitar essa triste inversão de valores. Portanto, pode-se decretar também a morte da sensibilidade, pois tê-la é pedir para ser expugnado do meio artístico.


Para não se entender se finda a crítica com o seguinte texto que coloca cada um diante de uma decisão: 


AFASTA DE MIM ESSE CALE-SE (Chico Buarque) 

ou

CALE-SE E COLOQUE A CARAPUÇA (XABIOA)


Wagner Ortiz
Flautista e Compositor

Um comentário:

Fagner, disse...

Os conceitos se metamorfosearam. Hoje já é possível, considerando-se o contexto de situações, distinguir lamentavelmente música de arte. Sei lá, viu... É uma pena mesmo. O que se deve observar é que, assim como vários outros problemas, esse que você apresentou também se mostra um resultado de má educação que deixa passar a questão da formação de opiniões nos indivíduos. Vê-se, portanto, que o bom desenvolvimento na fase escolar ainda é a solução pra tudo...

Parabéns, meu caro! Sábias palavras!