quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Vale a pena?


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27 de Janeiro


Vale a pena?

Vale a pena
Aborrecer-me à toa
Com coisas tão pequenas?

Que nada é esse que me atordoa?
Há nadas querendo ser tudo,
Motivo para eu ficar assim: sisudo,
Calado, quedo e mudo.

Vale a pena
Esses nadas se tornarem tudo
Se quem os cria é somente infeliz?

Não! Não vou ouvir coisas banais.
Não vou permitir a infelicidade valer.
Vale a pena rotular isso ou aquilo? Não!
Então, deixe que se explodam quem o faz.

Vale a pena
Calar-me, quedar-me mudo?
Nunca! Antes fale eu sozinho!

E Vale a pena
Aborrecer-me com um verso danado?

Claro, isso sim!
Pois vou pegá-lo e transformá-lo,
Chamar-lhe cabra safado,
Colocar-lhe onde me sirva,
Seja ele reto ou discreto,
Abobado ou sopapado,
Rimado ou abestalhado,
Seja trovado ou branquelo
Vou usá-lo, vou laçá-lo.

Então, vale a pena poetar?

Se o nada quiser briga, não!
Se o nada quiser ser verso, depende.
Se o verso fizer birra, sim!
E se a infelicidade quiser falar, não para ela!

Então é isso,
O que me importa
É se vale a pena!



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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Tudo muda

26 de Janeiro
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Tudo muda

Não sei escrever versos,
Esses soltos, como alguns fazem.
Se tiver projeto, escrevo-os leves,
Mas nem sempre outros bebem.

Pra dizer a verdade, não são breves,
Às vezes sim, mas todos saem de mim.
Eu escuto sim a poiesis, o canto da arte,
Traduzo-a no papel, seja nota ou letra.

Não sei gostar dos versos,
Esses tortos, talvez, certos.
Não tenho esse acerto perfeito,
Para acertar deixo me conduzir a verve.

Não sei realmente me importar,
Assim, tão resolutamente, em mudar uma vírgula,
Ou ganhar uma disputa besta,
Talvez seja por isso que me calo.

Não sei entender os controversos,
Que remam, mas voltam à mesma praia.
Às vezes é bom remar e voltar,
Mas qual o problema de ficar a deriva?

Ah, por favor, me deixem fazer nó,
Seja nos cabelos, seja nas notas;
Deixem-me rimar ou redundar.
E se quero substantivo um advérbio?

Não, eu não sei fazer o que fazem,
Às vezes sei, mas sempre meto meu dedo,
Daí uns me gostam, depois me desgostam.
Então faço assim, sem saber mesmo se sei.

Será que sabem mesmo de mim?
Não, não sabem o que mesmo eu não sei.
Versos, ainda que modestos, são lestos e seguros,
Às vezes os sei, mas já me cansei dessa conversa.


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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Amores


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25 de Janeiro



Amores

Meu amor existe,
Meu amor é triste.
Contentamento pouco,
Alguns segundos, louco.

Morena do abraço,
Momento no regaço,
Envolto em rouco
Grito tão a pouco.

Serena tua cor,
Grande tua dor.
Janela fechada
Teu riso, risada.

Meu amor existe,
Meu amor é triste.
Não me mostra o ouro
Pica-me teu besouro.

Entendo-o difícil,
Fere-me teu míssil.
Meu amor cruel,
Meu amor fiel.

Grandeza ingênua,
Toda minha, nua.
Dura espada fina,
Cravo-te canina.

Verdade maldosa,
Toda tua, custosa;
Cutelo no berro,
Decepa-me teu ferro.

Amor a tão pouco,
Momentos tão loucos.
Dourada levou-me,
Tocou-me, amou-me.

Teus olhos negros,
Profundos integro-os;
No caos escuro,
Mergulho-os, procuro-os.
Olha-me, a mim me farta
Até que um dia parta.
Se encontro ternura,
Doce volto-lhe pura.

Meu amor existe,
Meu amor é triste.
Não o atendo nunca,
Nem ele me trunca.

Não o entendo solto
Se me quero envolto.
Já que a mim nasceu,
Rude assim, morreu?

Meu amor negreiro,
Mulato sorrateiro
Quer levar-me tudo,
Deixar assim, mudo!

Dourada, ser meigo,
Minha não quer ser
Querendo-me leigo,
Assim me quer ter.

Eu me atrevo, grito,
Revel ato, disputo.
Indulto se irrito,
Não há, só frio luto.

Amor é assim, triste
Mesmo assim existe.
Dourada, ser meigo
Um dia “sê” comigo?

Amor é assim, existe,
Mesmo assim é triste.
Um dia é comigo,
Outro não é meu amigo.

Se o me quero envolto,
È porque sou louco?
Já que a vida acaba
Por que vivê-la diaba?


Se o me quero um pouco
Que mal há ser louco?
Eu me atrevo, rude
Grito, porque me ilude.

Meu amor negreiro,
Saudoso mulato,
A pouco em meu regaço
Desperto por meu braço.

Agora me perco,
Só me resta o esterco,
Vazio em mim, cheio,
Só porque me afogueio.

Meu amor negreiro,
Mulato sorrateiro,
Me deixas assim cheio
Eu mesmo me afogueio.

Amor é assim, triste,
Mesmo assim existe.
Contudo em meu regaço
Viva o amor aço.

O mulato não o disputo,
No meu regaço não luto,
Pois esse não me ilude,
É bálsamo da saúde.

Não quis o aço envolto
Porque, cego, fui louco.
Nele a real vida começa,
Vivendo-a dourada, plena, sem pressa.

O amor é assim, persiste,
Nunca de fato desiste.
Deveras em meu regaço
Reine o amor em que me satisfaço.


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domingo, 24 de janeiro de 2016

Pena


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24 de Janeiro

Pena

Sorriso triste, escondida flor,
Em negrume zonzo, dissabor.
Bocas espumadas comem
O pueril cândido Homem.

Pena branda acalenta a dor
Do artista, poeta, professor;
Ainda da dor que sente,
Semeia versos sorridente.

A pena percorre com horror,
Destemida, atrevida presta favor;
Já deixando a pura brandura
Enterra agora a pedra dura.

Desfaz-se ante a bruta dura,
Da ilusão dessa vida escura.
Pena, outrora branda, contente
Salva da morte a vassala mente.




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sábado, 23 de janeiro de 2016

Jarro de Barro


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23 de Janeiro

Jarro de Barro

Sou jarro,
Sou barro.
Barro de que é feito o jarro.

Sou berro,
Sou ferro.
Berro em goela de ferro.

Sou muro,
Sou duro.
Muro que me cerca, concreto duro.

Sou borrão,
Sou torrão.
Borrão de que é feito meu torrão.

Miro-me,
Firo-me.
Miro-me com tinta azulada e me firo.

Sou jarro,
Sou caro.
Bebo água do jarro caro.

Mero presente de desterro, meu erro.
Desterra-me a água,
Erra-me o carisma.

Atiro-me,
Retiro-me.
Por completo me firo, me retiro.

Sou ouro,
Sou touro.
Ouro que me cerca de futuro escuro,
Touro que me separa do findo urro.

Sou jarro de barro.
Sou barro nada raro.
Ferido, úmido da vida.

Sou jarro de barro,
Barro cercado do amaro,
Sem a tinta azulada, cara.

Sou borrão,
Sou torrão.
Torrão desfeito, pó do mundo,
Borrão de tinta, sina mirrada.

Pra que água no meu borco
Se o barro me dado é impuro
E a mim mesmo fere a muda secura?

A água molha a relva que urra,
Mas me desfaz cada gota da arte futura.
Ainda que possa ser, faz-se nó no meu gargalo
Esses borbotões que soluçam em meu aro.


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Bichos da Ditadura


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22 de Janeiro

Bichos da Ditadura

Tidos bichos asquerosos,
Roliços, pegajosos,
Desprezíveis lagartas
Que se arrastavam fartas,
Dependuradas nas folhas,
Na árvore dura
Da cruel ditadura.

Tidos bichos esquisitos,
Casulos sinistros,
Desprezíveis, inúteis,
Mortos, calados, fúteis,
No escuro fundo
Do oco do toco
Da árvore dura
Da cruel ditadura.

Mais do que todos sofridos
Não eclodiram os feridos
Sendo uns sumidos,
Desterrados esquecidos;
Perduraram os destemidos.

Mas, do escuro oco do toco
Da árvore maldita
Surgiram as cores,
Que contaram suas dores
Nas asas transparentes
No voo incomensurável das borboletas.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Mel de Rosa


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Rosa pentagonal-Naomiki Sato

21 de Janeiro


Rosa frondosa,
Olorosa,
Saborosa,
Sedosa,
Viçosa,
Voluptuosa
Seduz-me gozosa,
Mimosa,
Manhosa,
Deliciosa,
A mim, abelha presunçosa.

Voo jubilosa,
Buliçosa,
Calorosa,
Caprichosa,
Dengosa,
Ditosa
Canto de maneira maviosa.

Zelosa
Adentro a viçosa,
Zunindo melosa,
Na rosa viciosa,
Mais gostosa,
Apetitosa,
Deleitosa.

Gozo a duas,
Nuas,
Nas pétalas suas,
Na doce rebordosa
Do puro mel rosa.


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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Fábula do Arguto Sr. Raposo



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Marcela Evelyn
Projeto: ROman Diaz

20 de Janeiro


Raposo,
Manso,
Lesto,
Desliza na oca,
Boca louca, da toca.

Assim,
Discreto,
Hábil nos jeitos,
Sai depressa do mato,
Gaiato, poeta mulato.

Pitaco lá,
Ideia cá,
Loquaz, de modos vivos,
Sai convencendo tudo,
Abelhudo, seja cego ou mudo.

Meritório
De toda obra,
Perfaz melhores obras na argúcia,
Deixando ideias na ideia de outrem
E magia que irradia sua alegria.

Moral: Quem produz uma ideia colhe em várias hortas, pois



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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Poesia

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19 de Janeiro


A doce menina,
Filha minha,
Nasceu nas brechas,
Vales dos versos,
Onde eu quis morar.

Avulta-se modesta,
Revela-se serena,
Morena, mocinha se faz.

Aquiesce minha sina,
Rabisca minha linha,
Ocupa meu pensamento.

Tira-me o sono
Fala em casar-se,
Arrebenta-me o peito.

Sapatinho vermelho,
Visita-me as artes,
Música sua companheira.

Netas negras, melodias;
Netos brancos e métricos.
Vivo brincando com as crianças,

Então...

Onde eu quis morar,
Com artes vivo,
Brinco, converso.


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Reavesso Recomeço


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18 de Janeiro livre


O que dura
Já não se procura.

O que não dura
É o que se procura.

O que dura, vale,
Respalda crente,
Toma a mente inteligente.

O que não dura, desvale,
Espalma a mente,
Toma quase toda gente.

E assim tudo se vai ao avesso,
Eu procurando o reavesso,
Toda gente no recomeço.


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domingo, 17 de janeiro de 2016

Flor d água


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17 de Janeiro


Flor d`água

Flor, alma das Primaveras,
A verdade em todas Eras,
Um tesouro absoluto.

Flor gera fruto,
Fruto sabor,
Sabor outra flor.

Flor é a beleza,
Camélia branca.
A alma é flor,
Camélia rosa.

É flor a pureza,
Calla branca.
O amor é flor,
Cravo branco.

Flor é vida.
É natureza,
Azaleia rosa,
Criação, com certeza.

A flor é menina,
Do amor deflorada,
É mulher, amada flor.

Rosa branca,
Silêncio branco,
Paz de Deus.

Dente-de-leão,
Espalha a alegria.

Rosa vermelha,
Tinge nossa mão,
Promove a união.

Flor de Açafrão,
Luz divina.

Violeta lealdade.

E do poeta, que flor?

A da névoa úmida,
Do hálito das flores,
Borrada no vidro,
A flor d`àgua.

Flor gera fruto,
Fruto sabor,
Sabor outra flor.

A flor d`água
Gera poesia,
A poesia sabor,
Sabor de todas as flores.



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