sexta-feira, 23 de maio de 2014

Catador


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Catador


Cato lata
Meto a cara no lixo
Meto o lixo na cara
Catando lata.C
Acho comida
Aperto a barriga funda
Apertando a funda comida
Achada no fundo da lata.
A lata ferida.
A lata encardida,
Maldita lata bendita.

Tamanha decepção!
Tamanha dureza!
Tamanha cegueira mortal!
Excluído,
Sem olhos
Sem boca
Sem ouvidos
Sem alma
Tamanha é a cegueira mortal!

Neste coração sem vida,
Corre sangue etílico
Amortizando
Cada batida.
Uma a uma
O coração,
Agora feito lata,
Lata no lixo,
Espera,
Implora,
Geme
Que algo,
Não sei quem,
Seja morte,
Seja Deus,
Seja o capiroto mão preta,
Me catem...
Pela amor de Deus!!!!

Mas essa lata “desvalorada”
“Desvalida”
Desvestida
Descolorada
Desqualificada
Debulhada
Depenada
Deprimida
Depressiva
Fudida...
Foda-se!

Cheiro fumaça, me preteja
O nervo explode.
A carroça me fede
As mentes se turvam.
A roda me prende
O homem me morde.

A carroça não me frena,
O freio frena,
A todo segundo me queima,
Não frena a ira
Da minha mãe já maculada
Das injúrias
Dos reles robóticos,
Desditosos
Passantes da vida,
Gastadores escravos.

Olhe agora,
Verdadeiros catadores rotos,
Não de latas,
Nem de pets,
Mas de lástimas pútridas,
De teu ofuscamento,
Da tua ganância,
Pobres, paupérrimos de fato.
Eis o teu papelão:
Tua miséria moral.


Wagner Ortiz
15/05/2014

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