quinta-feira, 21 de julho de 2011

Workshops e improvisação livre: caminhos da música.

Wagner Ortiz
compositor, poeta, flautista e professor


Falar do tema “improvisação livre” exige profundidade, e o básico para discuti-lo com propriedade são os conhecimentos dos modelos de improvisação e música aleatória, além dos conceitos dos respectivos criadores que foram introduzidos no século XX por Cage, Koellreutter, Stokenhauser, entre outros. Entretanto, no que foi exposto, além da questão conceitual, há a questão de ordem pedagógica, ou seja, sobre como usar esses modelos e conceitos para o ensino, o que exige o estudo aprofundado de autores como Kodaly, Koellreutter, Schaffer, entre outros, o que seria necessário para resolver o problema de objetivos de ensino com a prática de improvisação. Contudo, ainda há outro problema de ordem social, a discussão sobre a adequação do projeto à região do Nordeste, já que o nível de pobreza é mais acentuado e as pessoas necessitam de coisas básicas como transporte escolar e merenda. Para completar o quadro caótico da discussão ainda há a questão da “FANTASIA”, já que muitos se aproveitam da ingenuidade e falta de cultura do povo para se aproveitar da situação, infelizmente essa fantasia tem o apoio das mídias capitalistas e de outras instituições interesseiras que formam sua rede stricta ou, as famosas “panelinhas”.


Da questão conceitual, não é de se espantar do desconhecimento desses modelos e conceitos, até por não agradar a maioria, por ser estranho ou diferente. Prates explica a dificuldade de assimilação da seguinte forma, “pode-se afirmar, sem juízo de valor, que a música de vanguarda em geral impõe algumas barreiras ao ouvinte leigo em função da complexidade de sua linguagem. A principal razão para essa dificuldade encontra-se na própria abertura simbólica desse tipo de obra.”, mas o artista também tem a dificuldade de apresentar o novo, pois “A dificuldade em se expressar [do artista] através de códigos ainda mais complexos que os do romantismo, especialmente para um público fruidor doutrinado e alienado pela mídia de massa” (Prates, 1998:39), entretanto, a negação desses conceitos como forma de expressão, anulando-os pela preferência de outros gera pré-conceitos, então surgem os rótulos nos quais o ser humano fica alienado rapidamente. Porém, há homens que trilharam, ou trilham, por um caminho poli-ideológico, à base Gestalt, pois com a complexidade desses novos códigos e a sua integração à pluralidade de culturas e a realidade os inspiram a criar outro caminho. Isso é tema para uma ampla discussão, porém para sintetizar, usando uma paráfrase à Pierre Schaffer, completa-se que, o elemento desses caminhos, além de revolucionário e ter dado vida a novos instrumentos, revolucionou o ouvido musical, sendo possível torná-lo consciente de coisas que nunca pudera utilizar.


Sobre a questão pedagógica e a improvisação livre, cabe aos professores e educadores a serem cada vez mais capacitados e informados, mas o que na realidade não ocorre. A improvisação vem sendo usada no desenvolvimento de crianças há muito tempo, assim basta ler as centenas de obras e artigos sobre, porém alguns compositores também se destacaram como pedagogos musicais e desenvolveram seus modelos de improvisação. Geralmente, a criança sente o processo como um jogo, que pode ser espontâneo ou educativo, pois nele o objetivo é que a criança ganhe experiência e desenvolva a autonomia, pois segundo Werri e Ruiz (2001), “A educação formal limita as possibilidades de fantasia e de liberdade criativa. Dá respostas certas, anulando a experimentação e a formulação de hipóteses pelas próprias crianças. Ignorando o fato de que as crianças pensam e que devem ser estimuladas a isso”. Portanto, nos cernes da atual pedagogia se acredita em um sistema de liberdade, onde o conhecimento e o pensar do aluno também são válidos para se construir conhecimento, tornando-o também autor no processo de aprendizagem. Zimmerman diz o seguinte: “Para adquirir conhecimento musical no sentido piagetiano, uma criança deve atuar criativamente sobre seu próprio ambiente sonoro.” Quantos aos objetivos devem estar concernentes às propostas, gerar estímulos, promover expressão, desmistificar mitos, acabar com pré-conceitos, mas nunca o contrário, pois então a ferramenta seria usada de forma errada.


Já a questão social, claro que todo tipo de ensino há de ser adequado conforme cada região, isso está nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) e na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), pois a pluralidade de cultura no país é assustadora, assim não é correto vislumbrar uma cultura em detrimento de outra. No caso da improvisação livre como instrumento pedagógico deve ser apoiada desde que atenda aos parâmetros e contribua para o desenvolvimento. Agora, realizá-la de forma irresponsável, sem continuidade, sem acompanhamento dos educadores e sem que os alunos sejam integrados à escola não é a prática recomendada, assim realizar um Workshop surpresa com o tema sem antes contextualizá-lo e dar a ele direção é sem dúvida uma arbitrariedade.


Finalmente se enfrenta a questão da fantasia. É por pura incompetência e ignorância que ela existe, pois nesse século onde a produção cultural está sendo direcionada para as massas, se cria arquétipos, heróis e deuses artísticos baseados apenas na mentira, incompetência e interesses. Depois que foi inaugurada a Era do Workshop e Vídeo Aula, há uma massa mirabolante e predatória que visa arrancar o dinheiro de pessoas com pouca instrução e sem acesso ao ensino musical de qualidade, dessa maneira a inúmeras produções que prometem “Deus e o mundo” como aulas de violão em quarenta dias, etc. Infelizmente o ser humano é movido a dinheiro. Assim esses workshops são muitas vezes só um bate papo com uma personalidade, mas não acrescentam nada, pois suas estrelas se sentem bem com uma massagem egolátrica, e enquanto se sentem no trono, pessoas cheias de expressividade e talento, conhecedores da cultura popular são esquecidos tendo até que decretar a morte de seu legado, como é o caso de Arlindo do Boi Capricho no Pará, e isso quando não ocorre o popular “pagar pau pra gringo”.


É entediante a reação que esboçam os responsáveis pela ordem cultural no país, e parece que não há defensores dessa ordem por medo da “extirpação” e comprometimento, mesmo que futuro, dos seus “tronos midiáticos”. Consequentemente, elogiar o feio e ridículo (mal feito e pobre culturalmente), parece ser normal para si garantir. Quem ameaça a perder o trono? Assim, recentemente, os músicos comemoram a volta da música no currículo escolar, porém mesmo que limitada à disciplina de Artes e ministrada por esses professores como bem entenderem, mas poucos (dos que tem condições) se manifestam propondo soluções, cobrando mudanças e se manifestando publicamente. Assiste-se a entrevistas com maestros, críticos, poetas, etc. mas, que não discutem o problema da realidade musical e cultural do país. Isso deveria ser cobrado da e na mídia (espaço do povo), mas como? Ela é alimentadora da fantasia! E alguns comemoram essa situação tosca da música no currículo escolar mesmo depois de um silêncio de 40 anos após a ditadura e do comodismo das escolas particulares!

Vídeo base: http://youtu.be/rnMuZUgAJMs


Bibliografia


Figueró C. Influência da Gestalt theory na pré-composição da peça "Canela-Gamboa" Artigo eletrônico publicado em Scribd, acesso em 20/07/2010 em: http://pt.scribd.com/doc/11585091/Artigo-Gestalt

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo : Paz e Terra, 1996.

Gainza V.H. A improvisação musical como técnica pedagógica. Publicação eletrônica, acesso em 20/07/2010 em: http://www.atravez.org.br/ceem_1/improvisacao_musical.htm

PIAGET, Jean. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

Prates E. Hipermúsica: a Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical. Texto a ser apresentado no IV Congresso Internacional Latino-Americano de Semiótica (La Coruña-Espanha 1999) Acesso em 20/07/2010 em: http://homolitteras.blogspot.com/2011/05/hipermusica-planimetria-como-tecnica.html


Ruiz R.A; Werri A.P. S. Autonomia Como Objetivo Na Educação. Ano I - Nº 02 - Julho de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178 Acesso em 20/07/2010 em: http://www.urutagua.uem.br//02autonomia.htm

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cale-se?




Ilustração: Drooker


Diante da mundial crise cultural que também vem assolando o nosso país, desde a de década em que ser artista, músico, compositor e cantor passa a ser uma manifestação banal visando os puros interesses comerciais e diante disso inaugurada uma "mídia mequetrefe" promotora de "lixo cultural", se concretiza com esse vigésimo segundo prêmio da MPB, de modo lamentável, a total estiolação da arte criativa e musical do país em nome da fantasia capitalista e interesses mesquinhos. Toda essa mídia iconoclasta liderada pela Globo, rouba o mérito dos verdadeiros talentos, não poucos no Brasil, e promove, como vem sendo discutido nessa lista, uma desenfreada desvalorização da arte em geral em detrimento da própria arte de "formas imutáveis" e da cultura de massa, além de "expugnar" aqueles que ousam falar contra (e por isso omissos nessa lista com medo de perder espaço) esse nefasto sistema que promove a ignorância como se fosse algo nobre, a mediocridade como se fosse poesia e a mentira como se fosse verdade. Assim, o cataclismo cultural está instaurado, premiado, assim como no cenário político, e, infelizmente, pouco se houve de pensamentos que possam abrir algo solucionador ou denunciador, pois há um eterno silêncio pernicioso que não deixa a cidadania existir e quem paga é a educação, a arte, os valores morais, etc.

Crê-se não ser necessária a explicação do termo "lixo cultural", pois a lista conta com cultos e artistas que já debateram o assunto, contudo se tem a noção de tudo que inverte a verdade por mentira, fatalmente será "abominação cultural e social". Assim, depois de o país assistir ao nascimento de tantos gênios e talentos, grandes poetas, pintores e artistas de toda espécie, especialmente empenhados a defender uma cultura genuína, assiste-se a quase extinção do elemento criador em toda arte: a criatividade. Morta simplesmente pela ganância e interesses de poucos. O que há de novo e inspirador para se premiar na arte do Brasil? Moldes que são repetidos e passado de geração em geração, do cantor pai para o cantor filho? Novas roupagens de obras musicais emboloradas sem nenhuma criatividade? Que proveito há em se premiar um mesmo cantor ou trabalho doze vezes? Isso é promover a criatividade? Mas, já dizia Jean Baudrillard, " a realidade é um simulacro". Pelo menos diante desse "show de horrores" que foi o 22 prêmio da MPB, ainda subsisti, pois não tem como ser ignorados pela monstruosidade de sua criação, talentos como Hamilton de Holanda, Mehimari e Yamandu Costa.

Quanto a exclusão dos pensadores e denunciadores desse império mercadológico de cultura de massa, não é de se assustar, pois mesmo na Grécia antiga, pensadores que não aceitaram ser corrompidos foi exilados e mortos, aleijando qualquer tipo de cidadania e movimento. Hoje há claramente três classes de artistas, os que se corrompem aceitando prêmios como esse, os que se calam mediante a mediocridade e os que nem são citados, pois são indigentes da arte, pois se recusam a aceitar essa triste inversão de valores. Portanto, pode-se decretar também a morte da sensibilidade, pois tê-la é pedir para ser expugnado do meio artístico.


Para não se entender se finda a crítica com o seguinte texto que coloca cada um diante de uma decisão: 


AFASTA DE MIM ESSE CALE-SE (Chico Buarque) 

ou

CALE-SE E COLOQUE A CARAPUÇA (XABIOA)


Wagner Ortiz
Flautista e Compositor