Um dia, há uns anos atrás, eu (Celso Mathias) morava no bairro do Méier, e resolvi pegar meu cavalete e sair pelas ruas tentando encontrar algo interessante para pintar.
Parei em uma rua próxima a um viaduto e comecei a pintar um conjunto de árvores em uma casa.
Algum tempinho depois quando eu já estava quase no final da pintura, parou um mendigo ao meu lado e ficou me observando pintar.
Não demorou em ele fazer um comentário sobre a pintura. Que comentário!!
- “Essa árvore que você está pintando não é aquela que está lá”.
Parei na mesma hora e olhei para ele meio que não entendendo o que ele dizia. E ele de novo:
- “Essa árvore que você está pintando não é aquela que está lá”.
Olhei para o quadro, olhei para a árvore retratada e...
- “Não é? Por quê?”.
- Essa árvore aqui na tela é uma amendoeira e aquela é uma mangueira. Veja como você a pintou.
Ele se despediu e foi embora.
Naquela hora o chão se abriu em um misto de alegria e perplexidade.
Era isso mesmo. Eu estava pintando uma mangueira com suas folhas bem pequenas com pinceladas largas e estava saindo uma amendoeira com suas folhas grandes.
Deixei o quadro como estava para sempre me lembrar disso, fechei o cavalete e fui embora.
Fiquei o dia inteiro pensando naquele homem. Que olho ele tinha!!!
Foi uma tremenda lição de vida e de arte. Acho que nunca mais fui o mesmo artista depois daquele dia. Comecei a entender que uma coisa era pintar e a outra era “VER”.
O artista pode ser perfeito na técnica, mas se não tiver o “olho” não adianta nada, vai ficar só bonitinha a pintura e mais nada.
É preciso enxergar o que está por trás da tela ou o que a natureza quer revelar.
É só começar a treinar o olho. A se abrir pro novo, a experimentar as coisas que estão ao seu redor quando se anda nas ruas ou em qualquer parte.
É um jogo de sedução infinito. As cores brincam com a gente. As formas gritam aos nossos ouvidos e os detalhes que antes não se percebia, agora emergem das esquinas.
A meu ver, é isso que se constitui uma verdadeira obra de arte e não apenas preencher com tinta uma tela.
A meu ver, é isso que faz a grande diferença e que imortalizou pintores como VanGogh, Rembrandt, Matisse ou Picasso e tantos outros. O OLHO!!
Ficava pensando porque entre milhões e milhões de pintores no mundo na história da arte, apenas uma centena ou duas se destacaram como gênios? O Olho! Onde outros não tiveram e se contentaram em apenas preencher telas e não pintá-las verdadeiramente, eles pintaram o que estava por trás dos seus modelos ou paisagem!! Rembrandt pintou a alma de seus retratados, Van Gogh olhou além da linha do horizonte, Picasso transcendeu os limites físicos da tela e Matisse olhou as cores e formas como nenhum outro havia olhado antes.
QUE OLHO!!!
Celso Mathias
3 comentários:
Excelente texto, Wagner! E nos faz pensar que o "olho", não precisa ser apenas aquele par que usamos para enxergar, mas é preciso ter "olho" para tudo nesta vida, bem no lugar do coração!
Quem diria, nós falando de olho e você me pega uma baita conjuntivite heim????!!!!!!!
PS: Ainda bem que não foi conjuntivite no olho do coração! Afe!!! Um abraço!
Postar um comentário